Crônica - O que os olhos não podem ver

  • sexta-feira, março 06, 2015
  • Postado por Um Novo Sol PJ
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Em uma noite fria de inverno, já muito cansada eu voltava para casa, porém naquele dia meu olhar era diferente, atentamente eu observava meu trajeto como nunca antes havia feito, minha alma estava aberta e entristecida.

No meu caminho aquela garotinha tão frágil e suja saltitava com um gatinho nas mãos e parecia não sentir frio, é como se estivesse acostumada, já que a rua era seu lar.

Aquela viela que há tempos provocava medo por sua iluminação precária e assaltos constantes, já não me assustava mais e ao passar por ela me dei conta das condições degradantes que viviam aquelas pessoas: lixo, esgoto a céu aberto, carros abandonados e o s ratos que por eles corriam. Ah! Quanto esquecimento. Esquecidos estávamos pelos nossos políticos e por nossa sociedade. Um sentimento de revolta me dominou e aquele olhar de indiferença se tornara indignação.

Minha rua, minha casa, à beira do meu portão um jovem com uma aparência envelhecida se drogava, aquele anjo marginalizado era meu amigo de infância, um dia já brincou naquela rua, mas agora sedento por afeto clama por piedade. Curioso com meu olhar me perguntou:

- Por que me olha tanto? Não estou te incomodando.

- Isso te faz feliz? - Eu digo.

- Feliz? Quem se preocupa com minha felicidade? Apenas me julgam, fogem por medo, pensam que sou bandido - Ele fala revoltado.

Em meu travesseiro, quanta nostalgia! Onde estaria meu bairro? O tempo passou e não percebi. Quanta tristeza. Onde está o meu Pimentas? Dos jogos na rua, das pessoas nas calçadas curtindo o verão, das festas juninas que reuniam os vizinhos. Será que ainda há tempo? Tempo de reviver. Tempo de resgatar. Tempo de amar o meu bairro, que apesar de ser um lugar de vida tão sofrida não trocaria por nenhum outro. Adormeci com o coração palpitante de esperança. Tenho orgulho de dizer: "Eu amo o meu Pimentas".

Autora: Emily dos Santos.

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